"À inspiração do halloween"



Amigos,

Aproveitando que hoje já é 1 de novembro e foi noite de Halloween farei uma breve análise etimológica. Essa palavra surgiu por tratar-se de uma comemoração pagã que ocorria entre o pôr do Sol do dia 31 de outbro e 1 de novembro, considerada uma noite sagrada (hallow evening, em inglês), que assim deve ter-se originado o nome da festa atual: Hallow Evening = Hallowe'en = Halloween, só é conhecida como dia das bruxas nos países de lingua portuguesa.

Mas por que comecei a falar sobre isso, já que aqui no Brasil, não comemoramos o Halloween como em países ingleses? É simplesmente para falar um pouco sobre os "seres que habitam nossa imaginação durante a noite, no escuro", então já consegui uma desculpa para falar sobre a escuridão e a ausência de luz em nossas vidas.

Quando estamos num local com baixa luminosidade, as células fotoreceptoras da visão, chamadas bastonetes, são acionadas e começamos a ver sem nitidez tudo que está a nossa volta, perdemos o sentido das cores, rapidamente nossos instintos de defesa são ativados, e nos preparam para alguma surpresa; o olfato, o paladar e a audição ficam mais receptivos, ou seja, é o medo que está ligado com essa ausência de luz, acredito que por isso, a noite crie seres fantasmagóricos, como é a nossa cultura em Halloween.

Está bem, sei que estou um pouco longo, então vamos a uma análise mais prática, de um texto teatral que é um dos meus preferidos.

Em "Um bonde chamado desejo" de Tenessee Willians, (ao lado cartaz versão de um clássico para o cinema com Vivien Leigh e Marlon Brando) destaco algumas cenas com a protagonista Blanche Dubois, uma aristocrata decadente que estravaza em questões éticas, após o suicídio do marido (que era homossexual) começa a se prostitiuir, e recentemente foi expulsa do colégio onde lecionava, acusada de seduzir um de seus alunos adolescente, vai pedir abrigo na casa da irmã, que ainda não sabe da verdadeira história, e o interessante que seu personagem vive num mundo moral obscuro; logo em sua chegada, ainda sozinha esperando a irmã, descobre uma garrafa de uisque e bebe, devolve a garrafa no lugar, um ato executado na ausência de sua irmã.

Num de seus diálogos com a irmã, Stella, após receber um elogio pela beleza mantida através do tempo, responde: "Deus a abençoe, pela mentira. A luz do dia jamais expôs uma ruína tão completa.", aqui destaque para a luz que pode revelar algo que ela tenta ocultar.

Última passagem interessante que destaco, quando Blanche olha-se pelo espelho, e num súbito instinto, retira de sua bolsa uma folha de papel, colocando à frente de uma lâmpada, e com esse gesto tenta amenizar suas linhas de expressão; aqui a iluminação serve como linguagem e dialoga no espetáculo com a personalidade de Blanche, em total depressão, e cada vez mais com medo e com todo o cuidado para "não cair a sua máscara".

Maria Fernanda como Blanche Dubois , em "Um Bonde Chamado Desejo" de Tenesse Williams, direção de Flávio Rangel - SP 1962 - Arquivo Funarte

Percebam como a questão do medo e do oculto se entrelaçam, e nesse texto ainda é possível encontrar detalhes anotados pelo autor, sugestões da iluminação em seu rico e detalhado cenário, ricamente descrito através do longo da narrativa.

Outra questão que deixarei para o próximo post, e tão importante quanto ao que já foi comentado, é sobre as sombras, a ausência da luz, mas brevemente....

Até a próxima.... um mês de novembro iluminado, e só para lembrá-los... é mês especial, aniversário meu e de minhã irmã gêmea.... rsrsrsrrs

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